Saturday, March 28, 2009

A Carneirada

Sento-me, e vejo a carneirada
disposta por filas, bem organizada
Batem teclas, batem forte, com afinco
Batem por tudo e para sempre,
os dependentes, aqui da sorte,
deste recinto

E batem-lhes à barda, batem-lhes sem fim

E não se importa nada a carneirada. e continuam-lhes a bater.
Porque sim, porque é preciso,porque é necessário.
Bater os objectivos, os lascivos, os diminuídos e os frustados
Bater os pisos, os altos e os baixos, as folhas, as refeições
(e até os serões)
E batem-lhes, batem-lhes; gostam de lhes continuar a bater
Aos pastores, ao doutores, aos amores, e a todas as coisas, porque sim
E porque é para fazer, porque é preciso,porque é assim...

E a carneirada aceita fielmente esta sova universal
Porque nunca se pensou em nada diverso,
e porque até: “Não está nada mal”

“Oll Kurrect” Tudo certo e é assim que deve ser.
Rectidão das ordens e cumprimento do dever,
Senão! e poderia ser bem pior:
extinguissem os chicotes e as amarras,
e já não haver ninguém
para nos gozar o suor

Luís Alves

Tuesday, January 20, 2009

Coisas da hora do almoço


Vem um homem. Branco. Envelope amarrotado e castanho debaixo do braço,careca, pele rosada e já usada, e pergunta:

-Polish?

-Não, não (portuguese)

E continuaram andando, o envelope castanho, o homem branco, a pele usada e gasta, os cabelos grisalhos, e seguiram, pelo limiar da praça abandonada de Damien Quay.

Não o mais tenho visto por aí, pela antiga praça de mercadores, que em outros tempos havia chegado a ser um dos mais estratégicos pontos do comércio marítimo internacional.

Assim, transtornado,fiquei sem saber o que estaria dentro daquele envelope castanho e amarrotado que transportava o homem de cabelos brancos, pele rosada e gasta, que agora me lembro, vestia farda azul e boné amarrotado dos correios.

Agora, o tempo diz-me que é altura de ir. E eu fui.

Luis Alves


Friday, December 12, 2008

Tkmart

Vi-me rodeado por jovens ansiosos,jocosos,que babavam notas de cinquenta euros por roupas ultrapassadas,obsoletas,de outra estação... Tretas! De ares rosa e magenta. E salmão cunhado de um tal arenque, que já não há quem aguente,tal odor absorvente e ultrapassado, que nem diluente,recente, o teria disfarçado.
Tão gozada a peixeirada, fuzila o apelo e a graça, custosa na visão,daquelas jaquetas, cordas e mosquetes,calças de ganga e joanetes, de sapatos ultrapassados nos folhetos. Por tudo isso, tão pouco,subindo às paredes ansiosas e estéreis, deleitosas e feréis, de tão estranho contentamento.
Do you care for a bag?
Não, deixo já isto aqui,por este chão poeirento,e rasteirento desta sórdida ilusão!

Luís Alves

Thursday, June 19, 2008

And Ireland said no...
Dia de celebração

Era dia de celebração.Sexta feira dia de festa.
Elas apareciam aperaltadas, de amplos olhares e enfeites,em volta dos lábios,da boca, dos olhos. Bochechas encarnadas, rubros olhos em artefactos e vestimentas negras, clássicas,inefáveis,essenciais.



Miguel Pimentel

Tuesday, March 04, 2008

St.Patrick´s street


Milhões de mini-saias
Pelas ruas sem aias
Milhares de mini saias!

E buracos de queijo
Em cintos Irlandeses
Aos milhares,em celebração

Também eu, por vezes
os tomo por bem, aos prazeres.
E então vou e disserto,
acerca do lugar, da rua,
quanto aos poderes e deveres
hábitos, homens e mulheres
selas,querelas,
(e soleiras frias, em fabulosa expansão)
continuando assim, e deduzindo curioso
os haveres
Desta amistosa confusão




Miguel Pimentel

Tuesday, February 12, 2008

À Cata

Não sei porque balde de água!
me encapotam sempre,
as pedras da calçada

Devem ser as mãos que as tolhem...

Saio de casa sempre apressado
de vassoura, pá e enxada
E quando lá chego, nada.
Nem lixo para limpar, nem terra esburacada
(E a estrada) recta e segura, continua
Sem passar por la' nada

Digam lá se não acham
que tanta força assim
bruta, fresca e oleada
(ou pelo menos, ainda viva e desengonçada)
Não deveria, pelo menos, tentar
o leito dos eleitos
E por trejeitos, talvez,
ser aproveitada?


Miguel Pimentel

Thursday, January 03, 2008

EMK

Não prometo cães bonitos, nem apitos
também bonitos. Não prometo terras nem coisas que não possa cultivar
Não prometo guizos; de enfeitar, nem doses de amarrar
Não prometo cores efervescentes, nem torpores resistentes
Não prometo ar. Prometo Terra e prometo tentar
Prometo não querer prometer e não prometo gostar
Prometo árvores, pelo menos as que vir. E lagos. E aves
que não prometo gostar. E passeios, os que passear
Prometo palha e prometo relva. Também prometo mãos juntas
desde que as possa juntar. E coisas folhadas
se forem em bolos, porque não prometo singrar
Fundos, facas e gasganetes, também os prometo às vezes
E das coisas que gostar, também as prometo lembrar
E indecisões. Prometo indecisões!
Não prometo é coisas de pasmar, de deslumbrar ou apresentar
Essas, não são de prometer. São raras bitolas
e sempre
As que o censor escolher


Miguel Pimentel